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domingo, 1 de maio de 2011

O Show de Truman

O Show de Truman é um filme muito massa de 1998 em que o Jim Carrey, o protagonista, faz o papel de um homem que vive em um reality show sem saber. Ele é o centro do programa e tudo à sua volta é encenado: sua família, seus amigos, a cidade em que ele vive, tudo é perfeitamente coordenado de modo que ele não descubra o que está se passando e ache que aquilo é a vida real. Sua vida toda foi assim e o programa é um sucesso de audiência no mundo todo.

Como tudo é montado e encenado, as coisas são todas "perfeitinhas": o trânsito é tranquilo, as pessoas são amáveis, respeitosas, educadas e estão sempre sorrindo, o céu está sempre azul, não há violência, não há brigas, não há corrupção, a cidade é cheia de verde e de pássaros cantando por todo o canto.

Nesse pouco tempo em que estamos aqui em Sydney não foram poucas as vezes em que eu e a Mi comentamos que parecia que estávamos vivendo no show de Truman. Claro que é exagero, já que Sydney é uma cidade muito grande e, como tal, obviamente tem lá suas mazelas: mendigos no centro, assaltos em bairros afastados, brigas entre comunidades por motivos étnicos, várias pichações espalhadas pelos prédios da cidade, assassinatos, acidentes de trânsito... Mas tudo em pequena quantidade. Tem também a velha história do sistema de transporte público, que não é ruim, mas poderia ser bem melhor considerando-se a importância da cidade e a quantidade de dinheiro arrecadada diariamente. Mas é só.

A cidade é limpa e organizada, com ruas bem sinalizadas e sempre limpas, e a maioria dos cruzamentos é acessível para portadores de deficiência.

 Cruzamento com acesso para cadeirantes


Não há poluição alguma, o céu está sempre azul ou nublado. Parece o céu de Bariri, minha cidade natal, de 30 mil habitantes, interior de São Paulo. Dá prá ver o sol, a lua, as nuvens, as estrelas... Bem diferente de São Paulo.
 
Ruas limpas, céu azul...


Há parques aonde quer que se vá, todos extremamente bem conservados, cheios de verde e de pássaros. Alguns são absurdamente grandes, como é o caso do Royal Botanic Garden, que tem uma área total de 30 hectares, ou seja, TREZENTOS MIL METROS QUADRADOS. Nele tem até uma pequena horta com um espantalho - quanto tempo isso duraria em São Paulo sem ser depredado? Num outro parque, o Sydney Park, tem uma pistinha prá criançada andar de bicibleta, patins etc. Até aí nada de novo... mas o interessante é que a pistinha é toda sinalizada, exatamente como se fossem ruas reais, prá criançada já aprender como o trânsito funciona. Tem até semáforo!

E os semáforos funcionam, se clicar na imagem prá abrir em tamanho real dá prá ver


As pessoas são solícitas, estão sempre prontas prá ajudar e não economizam sorrisos. É só parar numa estação de metrô prá olhar os mapas que aparece gente perguntando se você tá perdido, se precisa de ajuda e tals. Uma noite a gente ficou desacreditado: eram umas 8 da noite e a gente tinha descido do trem numa estação bem vazia, íamos ver uma máquina de lavar usada prá comprar. Entramos na rua errada, pedimos ajuda prá uma moça, a única pessoa na rua além da gente, e ela falou que não sabia onde era o lugar que procurávamos mas pegou o celular na hora e foi ver no GPS prá tentar ajudar! Ficamos uns 3 minutos olhando os mapas no celular dela! Ela tava SOZINHA, ajudando um casal de DESCONHECIDOS às 8 da noite em uma RUA VAZIA E ESCURA!

Mas não parou por aí. Pelo GPS dela vimos que a gente tava na direção errada, aí voltamos pro outro lado e perguntamos prá um carinha se ele sabia onde era a tal rua, ela falou que não conhecia. Demos a conversa por encerrada e continuamos andando de boa. Meio minuto depois ele gritou de longe prá gente: "É ESSA AQUI!" Ele tinha ido ver no celular e gritou prá confirmar prá gente que estávamos no lugar certo! Na hora eu e a Mi olhamos um pro outro e comentamos: "Show de Truman!"... hauhauhauhahuahua

A cidade é extremamente segura. Há assaltos, há brigas, há bêbados, há assassinatos, há acidentes de trânsito, afinal é uma cidade com 4 milhões de habitantes. Enfim... há violência, como em qualquer grande cidade do planeta, mas é mínima e na esmagadora maioria dos casos é nos bairros mais afastados. Sem contar que não é preciso fechar o vidro do carro ao parar no semáforo, mesmo que seja madrugada, e isso já é fantástico.

O trânsito é tranquilo, não tem congestionamentos colossais como os de São Paulo. Nos horários de rush é claro que o trânsito flui um pouco mais lento, mas nada fora do normal. Os motoristas em geral são educados e pacientes: não ficam buzinando o tempo todo, xingando e mandando-se um ao outro para a pqp. Também dão lugar se você dá seta prá mudar de faixa. Parece pouco, mas já é beeeeeem diferente de São Paulo. Resumindo: salvo raras exceções, ninguém se sente mais poderoso e se acha o Stallone quando assume o volante.

No nosso caminho pro centro (eu pro trabalho e a Mi pro curso de inglês) a gente vai de esteira rolante (pública) e não precisa enfrentar a forte subida que leva até a estação de trem. Leva uns 4 minutos prá vencer 700 metros de subida e tudo o que a gente precisa fazer é subir na esteira e ficar parado. Fiz um videozinho de lá numa quinta à noite, às 22:30:

É ou não é coisa do Show de Truman?


E tem uma coisa que, prá mim, é o mais importante de tudo e que faz toda a diferença quando comparamos a Austrália com o Brasil: o índice de corrupção aqui é um dos mais baixos do mundo segundo a Nation Master: nono lugar, com nota 8,8 (de 0 a 10). O nosso querido Brasil está na 62a posição, com nota 3,7, pior que países como Namíbia, Colômbia, Kuwait e Trinidad e Tobago. No meu ponto de vista, isso, somente isso e mais nada, é o que fez da Austrália "o Brasil que deu certo". Não fosse a corrupção dos nossos queridos políticos brazucas, o Brasil seria como a Austrália, e nada tira isso da minha cabeça.

Sydney não é perfeita como o Show de Truman, mas é o lugar mais próximo dele que já vi. Talvez quando eu conhecer o Canadá ou a Suécia mude de ideia, mas por enquanto Sydney é o "meu" Show de Truman.

Ah, e prá quem não assistiu o filme, recomendo forte, é obrigatório prá quem curte cinema. :-)

9 comentários:

Cibele disse...

Realmente essas coisas pequenas que fazem a gente perceber que está em um lugar diferente. Parabéns pela oportunidade e por dividir esses relatos com a gente! Um beijo e boa semana!

Anônimo disse...

Como é bom saber que aí tudo corre tão bem! Aqui, já perdi as esperancas, cada vez pior. Para mim que este ano faco 80 anos, creio que não terei tempo de ver as coisas melhorarem, se isso acontecer. Felicidades.

Felipe disse...

Pois é, Slompo. Se não fossem a família e os amigos, seria bem fácil não voltar mais para o Brasil.

Di disse...

Nao precisa ir mto longe... é só conhecer outra cidade na AU pra mudar de idéia :P

Eduardo Slompo disse...

Valeu pela força pessoal! Pois é, essas coisas que deveriam ser padrão em todo lugar acabam chamando a atenção, já que a gente ficou acostumado com tudo bagunçado e de qualquer jeito no Brasil...

Mas família e brothers sempre fazem falta, isso não tem jeito.

Diangela, pode ser que seja isso aí mesmo, por enquanto só conheço Sydney, vamos ver quando formos prá Melbourne, Adelaide, Brisbane... talvez lá seja ainda "mais" show de Truman. :-)

Ise disse...

Nada como viajar para que a gente possa ser crítico com relação à nossa cultura, vida, jeito de fazer.

Essas esteiras são super comuns na Europa e qdo vc vê gente curtindo horrores, como se fosse criança no Natal, pode ter ctza: é brasileiro. Somos acostumados a viver mal e aceitar o caos como parte da normalidade (eu nasci e vivo na cidade com o metrô mais lotado do mundo e há 20 anos não se faz nada para melhorar a situação...). Imaginem a minha surpresa qdo comecei a pegar metrô na Europa (em horário de pico!!!!!). Lá não é coisa de pobre: deixar o carro em casa é questão de inteligência e velocidade... Aqui em SP, eu não sei se é mais difícil chegar no meu trabalho de metrô ou de carro. Por conta disso não vou poder morar no apartamento que eu comprei, onde escolhi morar... Ele está aqui, fechado enquanto eu estou pagando o equivalente a outra parcela de financiamento para morar mais perto do trabalho.

Coisas de São Paulo.

Mas aprendi também que é difícil comprar SP com qq outra coisa por aí: as medidas e os números são sempre desproporcionais. Pense só: os 4 milhões que tem aí não chegam a ser nem os 5 que tomam metrô diariamente aqui na terra da garoa. Inegável que fica bem mais fácil, né?

Não sei se só os políticos sérios mudariam a questão: Brasil e Austrália tem backgrounds históricos muito diferentes, que começam inclusive no tipo de colonização. A mentalidade cultural é outra e não dá para esperar educação (manutenção da cidade limpa ou ajuda aos desconhecidos por exemplo...) de quem nunca recebeu educação ou chance alguma do país. Além disso, não dá para esperar que alguém te trate bem na rua com índices de violências como os nossos...

Eu acho que o buraco é beeeeeem mais fundo.

Mas adorei a compração com o show de Truman! hahahahaha

Eduardo Slompo disse...

Ise, muito massa seu comentário! Por falar em Europa, como eu quero conhecer lá... vai chegar a hora.

Então, talvez eu esteja sendo muito simplista, mas ainda acho que a corrupção é a raiz dos problemas. Se tem violência é porque não tem polícia suficiente e porque tem muita gente desempregada, e isso ocorre porque o dinheiro que era prá ir prá polícia, pro incentivo à economia (e consequente diminuição do desemprego), pro sistema carcerário, pro combate às drogas etc etc etc fica no bolso dos políticos ladrões.
Se tem gente jogando lixo na rua é porque não tem escola de qualidade prá ensinar o que é ser um cidadão consciente, e se não tem escola de qualidade também é porque o dinheiro que era prá estar indo prás escolas está mais uma vez no bolso dos políticos ladrões (ou nos castelos, em alguns casos... hehehe).

Bom, já tá virando tese de mestrado isso, deixa prá lá... hahahaha

Bjão, e acompanha o blog sempre que der!!! Manda um abração prá todo mundo ae!!! Te cuida!!!

Robson disse...

As propagandas de margarina são reais... Pelo menos aí!!!!

Eduardo Slompo disse...

ahuahuahauhauah

Bem lembrado!!! Não chega a tanto, claro... mas tá quase lá!!! hehehe